Pouco
para dizer, muito para escutar, tudo para sentir. A propósito
do programa de rádio
ÍNTIMA FRACÇÃO
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1.11.05
Talvez esteja magoado com a Rádio, mas vejo-a caminhando rumo a um futuro diferente. A Rádio, o meio da intimidade, o único com gente dentro e próxima, será substituído por uma nova Rádio ainda mais próxima, única, pessoal ... EMEREC. Só que esta nova Rádio, e refiro-me obviamente ao Podcasting, nunca poderá ter uma das mais fascinantes características da Rádio tradicional : a partilha simultânea da escuta. Por isto, revolto-me contra quem esvazia a Rádio em Portugal, conduzindo-a para uma inócuidade mecânica de mera gestão electrónica, aparentemente vaga, mas com vincados traços ideológicos. Estes traços são riscados com intuitos claros : massificar, controlar, dominar. A preversidade encontra-se, sobretudo, nas contradições de quem assim haje. Quem sempre combateu o colectivo, defendeu a individualidade e incentivou a competição, eis que, também na Rádio, a indiferencia, a colectiviza, a reduz à escravidão por um pequeno grupo que decide em nome das audiências, previamente moldadas para a inevitabilidade das mesmas escolhas. A mesma música (nunca nova), a banalização das opiniões (raramente novas) e a ilusão da intervenção. Que assim procedam as rádios privadas ligadas aos grandes grupos de interesses económicos, é óbvio. Só me espantaria se assim não fosse, hoje e no Portugal dos actuais empresários. Mas que o Serviço Público não consiga, ou não queira, romper esta teia, já me espanta. A Antena 1 mantém-se o canal de todos e de ninguém. Sem correr riscos, é o melting pot do Portugal estável, aquele que afinal não chega para sair do canto. A Antena 2, tentou, timidamente, abrir outras portas (jazz). Muito poucas. Com cobertura nacional, produz para uma pequena minoria (contrária à imensa minoria da traída XMF). É um óbvio refúgio (a que também recorro), mas todo o ambiente e estética respira o peso de meio século. A Antena 3, continua a cumprir os seus desígnios iniciais : no suposto discurso juvenil, manter a alma da Energia domesticada. Foram agora nomeados subdirectores para todas estes canais da RDP. Ou não vão querer mudar nada, ou terão pela frente a montanha há muito sedimentada pela instituição. Continuo a pensar que só mais um canal público poderia contornar a montanha e, mesmo assim, teria que crescer completamente à margem dos diferentes mecanismos em funcionamento na empresa pública. É uma opinião. Eu sei. Sei também que as opiniões (sobretudo as não solicitadas) estão por aqui a um preço muito elevado.
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Francisco em 1.11.05
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