Pouco
para dizer, muito para escutar, tudo para sentir. A propósito
do programa de rádio
ÍNTIMA FRACÇÃO
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6.10.05
Eu devo ter sentido o aviso chegado com a súbita lembrança de Holocaust. Levei-a em conta das listas com memórias da IF que os ouvintes têm feito chegar. Estava enganado. Havia um sentido transcendente para o regresso daquela terrivelmente trágica música. Perdi ontem o meu melhor amigo. O meu inseparável companheiro dos últimos nove anos e meio. Aquele que falava comigo em silêncio. O que atravessava dias, noites, madrugadas, dias ensolarados, quentes, frios, brumas, nevoeiros, chuvas, ventos, trovoadas, vales, montanhas, caminhos duros, estradas suaves, luares, luas novas, lagos, ribeiros, jardins, portas, escadas, tudo, para estar junto de mim. Aquele que me acompanhou sem um ruído, compenetrado, no estúdio, querendo apenas estar, sem interferir, sem perturbar. O que me defenderia, contra tudo e todos. Aquele que me passava de novo o ânimo, quando parecia perdido. Que nada esperava, a não ser eu mesmo e o afago de amigo, que seria sempre menor do que o dele. Deve haver inúmeras narrativas semelhantes, muito mais eloquentes, criativas, verdadeiramente literárias. Muitos blogueiros, dos inúmeros intelectuais que aconchegam a blogosfera, citarão uma infinidade de autores ("como dizia ...") mais ou menos obscuros (os que os outros não conhecem), quem sabe "os gregos" até, com textos belíssimos sobre este estado de espírito. Não me servem. Desprezo-os. Aos autores e aos intelectuais bloguistas. Ninguém escreverá seja o que for, que eu não permitirei. Ninguém escreveu uma linha que se referisse ao meu amigo, excepto o Hugo, numa entrevista comigo na Pública, há rigorosamente dois anos -"sempre acompanhado pelo LAK, o rottweiler bom". Existem. Seres que ultrapassam a sua condição e se situam num lugar indefinível. Agora, um silêncio que é o oposto daquele que, desde sempre, procuro na IF. Sentidamente abandonado e perdido. Os espaços e os passos vazios. De novo, sei lá como, sempre à espera de uma resposta, de um sinal, da intimidade de uma esperança. Perdi o sonho dos meus quatros anos : o meu amigo de patas e pêlos.
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Francisco em 6.10.05
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