Pouco
para dizer, muito para escutar, tudo para sentir. A propósito
do programa de rádio
ÍNTIMA FRACÇÃO
OUVIR ON-LINE ou PODCAST
|
|
|
29.1.05
alta noite já se ia, ninguém na estrada andava.
no caminho que ninguém caminha, alta noite já se ia, ninguém com os pés na água.
nenhuma pessoa sozinha ia, nenhuma pessoa vinha.
nem a manhãzinha, nem a madrugada, alta noite já se ia, ninguém na estrada andava.
no caminho que ninguém caminha, alta noite já se ia, ninguém com os pés na água.
nenhuma pessoa sozinha ia, nenhuma pessoa vinha.
nem a estrela guia, nem a estrela d'alva, alta noite já se ia, ninguém na estrada andava.
no caminho que ninguém caminha, alta noite já se ia, ninguém com os pés na água.
Alta Noite, de Arnaldo Antunes, há uns anos passou com alguma frequência na IF. O AA tem um ar de John Cale. Ouvi o Arnaldo a conversar com o Carlos Vaz Marques, com aquela voz que ninguém mais tem. E ele falou de rock'n'roll. Não da música. Da atitude. Que o João Gilberto era rock'n'roll. E eu a concordar. Depois deu-me para recordar um pioneiro, o Fats Domino. Antoine Fats Domino.
Primeira gravação em 1949 (ouvir aqui The fat man). Entraria na cena rock'n'roll em 1955. Vendeu o bastante para ser 10º no Top com uma canção que, cantada por um branco (Pat Boone), chegaria a nº 1. Os grandes momentos de Domino situam-se entre 1949 e 1962, mas nos anos 70 viria à Europa e, em históricos concertos na Alemanha, recuperar (para sempre) a fama adormecida.
I Want To Walk You Home é uma daquelas coisas que sabe (e)ternamente a anos 50. Fats Domino tocava piano, ensinado por um primo mais velho. Para mim, o rock'n'roll foi sempre uma música de primos mais velhos. E como eles me fazem falta ... Deixaram de dançar o rock (que sabiam fazer bem) e não posso perdoar-lhes -embora os compreenda. Fats, em 2001, com 73 anos, ainda cantava e tocava assim.
O Van Morrison cantou esta especial nostalgia pelo Fats Domino em The Days Before Rock'n'roll. Eu voltei a ele através de umas palavras ditas na rádio pelo Arnaldo Antunes (Lisboa, esta noite, no Porto, segunda). E volta também o cheiro e o tacto do primeiro gravador que conheci, do microfone, e do écran, e da máquina de projectar filmes de 8 mm. E de pão torrado, também.
0 Comentários
por
Francisco em 29.1.05
|