Pouco
para dizer, muito para escutar, tudo para sentir. A propósito
do programa de rádio
ÍNTIMA FRACÇÃO
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4.12.03
Acabaram os Concertos Portugal Telecom, mais conhecidos pelos Concertos "Em Órbita".
Para quem não sabe, "Em Órbita" foi (é !) um programa de rádio que começou em 1965 e passou por diversas fases, mas todas construiram um autêntico património da formação do gosto do público, com critérios de grande exigência e rigor.
Com o fim destes concertos, dedicados à música antiga, pode também terminar o conceito (que insisto, existe) "Em Órbita".
Há só uma enorme perplexidade que, persistentemente, teima em não se resolver. Será que num país conservador, com alguns conservadores no poder, só se conserva a medíocridade ?
Contra o que é habitual neste blog, transcrevo um texto de Carlos Câmara Leme, publicado no jornal Público. Está lá tudo.
" 1. A 5 de Novembro de 2003, na Estação Júlio Prestes/Sala S. Paulo, a PT Brasil atribuía, pela primeira vez, os Prémios Portugal Telecom de Literatura Brasileira. A operação do outro lado do Atlântico foi um êxito: conseguiu atrair toda a elite social e cultural da grande metrópole brasileira e garantiu, simultaneamente, a instituição de um prémio literário sério e prestigiado. O investimento (com as várias reuniões do júri, publicidade e a gala de atribuição na Sala S. Paulo), rondou os 350 mil euros.
2. A ligação da PT ao Em Órbita, um dos programas que fazem já parte da história da rádio em Portugal, data de 1996. Em 1997, surgiram os Concertos PT/Em Órbita. De então para cá, os mágicos momentos musicais saldaram-se numa aposta completamente ganha. A vários níveis: Portugal passou a estar associado, internacionalmente, a uma programação notável, consistente, com uma qualidade rara porque envolvendo os maiores intérpretes (formações, maestros, cantores) mundiais do movimento da música antiga.
3. Anteontem, no Rivoli do Porto, esta aventura sustentada e inventiva - em pouquíssimas ocasiões este arco foi tão bem conseguido em Portugal -, chegou ao fim. Chegou ao fim, inexplicavelmente. A PT, que apoia mecenaticamente um Teatro Nacional D. Maria II absolutamente à deriva, deixou de apostar na face mais visível e lúcida da sua política mecenático-cultural.
A decisão é tanto mais inexplicável quanto, em documento de Março de 2002, o conselho executivo da PT aprovara o triénio 2003-05, faltando o orçamento e o respectivo programa dos concertos. Para 2004, o orçamento era de 330 mil euros.
Noutro país, a deselegância para com Jorge Gil - o "senhor Em Órbita" - tinha outro caminho. Aqui suscitou uma onda de perplexidade (Presidente da República, ministro da Cultura, agentes culturais, políticos e empresariais dos mais diversos quadrantes manifestaram a sua estupefacção perante tão indigente decisão), que não passou da pequena conversa de salão. Jorge de Sena bem nos avisara - "vivemos no reino da estupidez". Portugal ficou ainda mais estúpido. E mais pobre. "
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Francisco em 4.12.03
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